Ladrão de cadáveres, de Patrícia Melo | resenha

capa de Ladrão de cadáveres pela editora Rocco

Ladrão de cadáveres é mais um livro da Patrícia Melo protagonizado por personagens sem perspectiva de vida inseridos numa sociedade onde o dinheiro é o único valor estável.

Depois de uma funcionária se matar por sua causa, o gerente de uma empresa de telemarketing decide deixar São Paulo para ter uma vida mais tranquila em Corumbá, no Mato Grosso. Num domingo de pescaria, ele vê um avião particular cair perto de onde estava no rio. Decide ver se existem sobreviventes no avião.

Vê que as duas pessoas que estavam no avião, um segurança e um piloto, estavam mortos. Olhando um pouco em volta, percebe que uma bolsa. Abre e vê que na bolsa tem 5 kg de cocaína.

Ele rouba a cocaína e passa a ser um traficante. Vive esbanjando o dinheiro. Até que um de seus companheiros de tráfico é preso e a cocaína é apreendida. Fica uma dívida que ele não tem como pagar trabalhando.

A partir daí, a utopia do personagem é pagar a dívida, comprar uma chácara e viver tranquilo com a mulher. O único meio que ele tem para isso é usar do cadáver que ele havia roubado para chantagear a família dele. O piloto do avião era de uma família rica da região; a mãe não consegue seguir a vida sem se despedir do filho. O ladrão de cadáveres passa a chantagear essa família para construir sua utopia. Em síntese, é esse o início do enredo do sétimo livro da Patrícia Melo.

A narrativa, próxima de uma narrativa cinematográfica, é de muitos cortes e de cenas curtas. Os capítulos do livro, que também são curtos, acompanham essa cena. É como se o narrador onisciente de fato fosse uma câmera e cada situação da história merecesse um capítulo diferente.

O ambiente em que a história se passa sim é diferente das outras obras da autora paulista. Longe do Rio de Janeiro e de São Paulo, o tráfico quase amador dos pequenos criminosos de Corumbá parece muito mais verdadeiro. A entrada do protagonista nesse ambiente também parece mais natural do que seria em uma grande cidade.

Os personagens sofrem transformações ao longo da história. Talvez o mais interessante do livro seja acompanhar a transformação de um ex-gerente de telemarketing em um ladrão de cadáveres que resolve chantagear uma família em luto. Verdade que essa transformação fica no limite do verossímil, mas ainda assim as mudanças do personagens são críveis, sobretudo pelo ambiente em que eles estão.

Vale a pena ler o ladrão de cadáveres. É mais uma boa história que a Patrícia Melo conta sobre personagens sem muita perspectiva de vida. Dessa vez, longe das maiores metrópoles do país.

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