Sobre o cálculo do volume, de Solvej Balle | Resenha

Eu comecei a ler Sobre o cálculo do volume porque o conceito me pareceu interessantíssimo. A ideia é a seguinte: uma mulher está presa sempre no mesmo dia. Tara Selter acorda todos os dias no dia 18 de novembro. Isso acontece apenas ela, todas as outras pessoas que ela conhecem vivem esse dia como se fosse a primeira vez.
A partir de uma narrativa não-linear, de um diário que ela passou a escrever depois que percebeu que estava presa no mesmo dia, o leitor acompanha a percepção de Tara sobre o que é afetado ou não pela passagem do tempo. A conta bancária dela, por exemplo, volta ao mesmo valor toda vez que ela acorda. Mas itens básicos, como comida, não são repostos nem quando ela consome na casa dela nem quando ela compra no mercado.
É interessante perceber como ela reage a essa condição de estar presa no mesmo dia. As melhores partes do livro são sobre como ela tenta lidar de formas diferentes com a solidão, como ela processa emocionalmente esse fato.
Existe toda uma angústia em acompanhar como ela tenta contar ao marido sobre essa condição. Ela tenta explicar pelo que está passando, esclarecer que acorda sempre no dia 18 de novembro, que talvez ele possa ajudar ela a se sentir menos sozinha. Só para, depois que os dois dormirem, ele acordar como se nada tivesse acontecido.
Ela, por sua vez, mantém a memória e aos poucos descobre as nuances do que retorna ao lugar ou não depois que ela dorme e acorda. Talvez nos objetos estejam as maiores dúvidas sobre as regras de como funciona a história em si. Não parece existir qualquer lei racional que defina o que é conservado de um dia para o outro o não. E a falta de qualquer princípio é interessante porque quebra com o fato de sempre a mesma coisa acontecer com a própria Tara.
Um elemento do livro que não funciona são os inumeráveis detalhes de como é o dia dela. São muitas e muitas páginas descrevendo como se desenrolou o dia 18 de novembro da personagem. Claro que em certo momento o leitor precisa saber dos detalhes do que acontece com ela, até porque é um fator relevante da solidão e do tédio que ela sente.
Mas os inúmeros detalhes do que se repete ficam no limite do aceitável. São muitas repetições, muitas mesmo. O livro fica chato nesses momentos. Não inviabiliza a leitura, mas quebra o ritmo da narrativa em bons episódios e às vezes não cumprem nenhum papel na narrativa.
Eu recomendo o livro, apesar desse excesso de repetições na descrição do que se repete nos dias dela. Até o dia em que escrevo a resenha, não li a continuação do livro. Sei que são sete livros no total, com três já traduzidos para o português. Não tenho a intenção de ler esses livros tão cedo, mas o interesse de ler uma mais uma das continuações existe.
