Copo vazio, de Natalia Timerman | Resenha

capa de Copo vazio da editora Todavia; livro publicado em 2021

Copo vazio é um livro que trata do desamparo. Natalia Timerman, autora do romance, disse em entrevista que buscou construir uma personagem que não sofre de outros graves problemas para se concentrar nisto: no abandono, na solidão, no desamparo mesmo. É isso que se reafirma a todo momento no livro.

A protagonista do romance é Mirela, arquiteta bem-sucedida profissionalmente. Ela conhece Pedro em um aplicativo de relacionamentos. Os dois se conhecem; se apaixonam. Certo dia, Pedro simplesmente some da vida de Mirela. Ela se vê desamparada.

O leitor sabe desde as primeiras páginas que o livro gira em torno desse abandono; a primeira imagem construída no livro é Mirela fantasiando um encontro ao acaso com Pedro no supermercado. Entretanto, a dor da personagem é complexificado aos poucos. A narrativa mostra a vida estável de Mirela antes de conhecer Pedro e por isso é possível enxergar melhor o vazio deixado pelo personagem.

A primeira questão sobre o sofrimento de Mirela é o silenciamento sofrido por ela. Digo silenciamento no sentido de não poder fazer barulho, não poder gritar. Mirela foi abandonada sem saber a razão e não tem a quem recorrer. O processo de perceber que o relacionamento tinha chegado ao fim é repentino; quando se vê sozinha ela não tem a quem pedir socorro nem que passe por situação semelhante a dela.

Outro ponto em relação ao abandono de Mirela são as lembranças de como era o relacionamento. Mirela tem só as lembranças boas de Pedro, porque para ela não houve a parte de decadência no relacionamento, não tiveram os atritos de quando uma relação está perto do fim. Para ela, fica só a parte boa de quando estava com ele.

Mas um momento emblemático do livro para mim é quando ela reclama que nem o privilégio de sofrer pela lembrança de uma foto ela tem. Ela se queixa de não ter uma foto com Pedro. De não poder sofrer por uma lembrança concreta.

Chama a atenção como a solidão de Mirela é sentida. Imagino que quase todos os personagens de todos os livros possam ser lidos pelo prisma da solidão; todos são sós em algum nível. Entretanto, evidentemente que esse solidão se intensifica quando é contrastado com uma paixão que termina sem aviso. Parece que não existe coisa no mundo que possa nem amenizá-la.

Outra coisa diz respeito à necessidade de validação que Mirela tem depois de passar por esse processo. Ela teve os laços cortados com a pessoa que ela mais admirava no mundo sem nenhum sinal de que isso podia acontecer. É uma consequência natural que ela questione a própria imagem, que ela tenha a autoestima destruída. É mais uma barreira que se cria na vida dela.

Enfim. Esses são alguns dos aspectos da subjetividade de Mirela que o livro passa durante e depois do relacionamento. Muito recomendada a leitura de Copo vazio. Dá pra perceber em cada página do romance que a Natalia Timerman é muito sensível e escreveu um bom romance.

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No primeiro parágrafo do texto, menciono uma entrevista sobre a obra. Essa entrevista é a da Revista Cult, feita com a autora em 2021, por Fabiane Secches. É só clicar neste texto em laranja.

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