O silêncio da chuva, de Luiz Alfredo Garcia-Roza | Resenha

Capa do livro O silêncio da chuva de Luiz Alfredo Garcia-Roza
Capa do livro O silêncio da chuva na edição da Companhia das Letras de 2005

O silêncio da chuva foi o primeiro livro que li do Luiz Alfredo Garcia-Roza. Desde então, li mais algumas obras dele. Optei por trazer a resenha desse livro para o blog primeiro porque penso que seja um livro emblemático e que condensa bem o estilo dele. Existem dois elementos que contribuem para isso: a construção da personalidade de Espinosa e a influência da realidade do Rio de Janeiro no enredo. Mas antes de explicar sobre esses dois pontos cabe trazer uma sinopse rápida do livro.

O livro é um romance policial. Existem pelo menos dois mistérios para serem investigados. O primeiro é o de um executivo riquíssimo que é encontrado morto dentro do carro. O leitor sabe desde as primeiras páginas que ele se suicidou. Ele planejou para que o suicídio tivesse parecido um assassinato; deixou uma carta no carro para que sua esposa soubesse que ele tinha um seguro de vida valendo um milhão de reais.

O que acontece é que, em vez de sua esposa, é um ladrão de bairro quem encontra a carta dentro do carro. Só depois é que a polícia chega. O ladrão tentaria entrar em contato com a secretária para que ela tentasse convencer a esposa do morto a aceitar que a herança fosse dividida entre os três. Com o passar do tempo, pessoas ligadas ao caso começam a ser assassinadas.

Espinosa é o policial responsável por investigar o caso. Ele é o detetive de todos os outros romances policiais do Garcia-Roza também. Cada um desses livros traz uma faceta diferente da personalidade dele, um detalhe particular da vida dele.

Em O silêncio da chuva, o leitor descobre que o pai e mãe dele morreram cedo. É dito que a avó cuidou dele durante a adolescência e foi definidora de algumas coisas da vida dele. Dela vieram muitos os livros; tanto quanto os livros que ele tem pela casa quanto pelo gosto dele pela leitura.

Um aspecto que me chamou atenção é que os livros de Espinosa ficam espalhados de forma anárquica pela casa, apesar dos cômodos em geral ficarem em ordem. Isso parece refletir um pouco a forma como ele conduz as investigações. Não por ser anárquica propriamente, mas por não serem metodicamente organizadas e planejadas. Ele parece ir seguindo os eventos e agir um pouco de improviso, ainda que sempre de forma ética e de acordo com a razão.

E é assim como funciona a polícia no universo em que se passa o romance também. A ação do livro se desenrola em Copacabana e a forma como a polícia age é verossímil com o que se tem de imaginário de qualquer polícia pelo Brasil. Organização essa que parece agir mais pela conveniência de ter que investigar a morte de um milionário do que de prestar o serviço de defesa de qualquer pessoa.

Nessa equação, entra o peso de uma empresa de seguros e o poder dela de interferir na forma como esse caso é resolvido. O peso do valor do seguro de vida parece ser muito mais decisivo do que qualquer ideia de justiça. Como é coerente com a sociedade que a organização está situada.

Ao fim e ao cabo, vale muito a pena a leitura de O silêncio da chuva. Recomendo a leitura especialmente a quem gosta de romances policiais e quer descobrir novos autores. O Luiz Alfredo Garcia-Roza é um escritor mais do que aconselhável, nesse caso.

_______________________________

Indico também a entrevista que o autor deu para a TV Brasil. Nela, ele conta um pouco sobre a obra dele, assim como o romance policial em geral e outros temas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *